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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Finalista dos 200m rasos em 1984 sofre com 'falta de memória olímpica'


07/08/2012 16h27 - Atualizado em 07/08/2012 16h57
loboesporte.globo.com/pb/noticia/2012/08/finalista-dos-200m-rasos-em-1984

João Eugênio Batista mora hoje em João Pessoa inconformado com o ostracismo. Vive em dificuldades e tem vergonha de dizer em que trabalha 

Por Phelipe Caldas João Pessoa
 
Finalista olímpico, João Batista Eugênio, hoje com
47 anos, é um 'completo anônimo' em sua terra
natal (Foto: Marcos Russo / Jornal A União)
Ele nunca teve a ambição de se dedicar ao esporte de alto rendimento. Participava de campeonatos regionais pelo Nordeste e ganhava uma ou outra corrida, mas nunca com grande destaque. Foi muito por isso que o atleta quase não acreditou quando foi convocado para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Foi para participar da prova dos 200m rasos, chegou a uma incrível final e terminou em quarto lugar, ficando a poucos décimos do bronze. Essa é a história de João Batista Eugênio, o primeiro paraibano a chegar perto de uma medalha olímpica. Hoje, contudo, como um “completo desconhecido”, o atleta se ressente do anonimato e das dificuldades da vida, ao ponto de ter vergonha de dizer em que trabalha.
João Pessoa é uma cidade muito ingrata com seus atletas"
João Eugênio
A trajetória de João Eugênio no atletismo é ao mesmo tempo impressionante e curta. Tinha apenas 19 anos quando foi chamado para as Olimpíadas e aquela final o credenciava para uma carreira para lá de promissora. Mas teve algumas dificuldades físicas nos anos seguintes e não voltou a participar de nenhuma outra edição olímpica. O paraibano não aceita bem o ostracismo e hoje morando em João Pessoa, sua cidade natal, fala com ressentimento de seus próprios conterrâneos.
- João Pessoa é uma cidade muito ingrata com seus atletas. As pessoas não têm memória e os governantes não se preocupam em divulgar os feitos de seus heróis. Hoje estou esquecido - declara em tom grave e amargo.
O feito em questão foi sair da capital paraibana, sem nunca ter passado por um treinamento de ponta, e correr de igual para igual contra homens como o americano Carl Lewis, que naquela prova conquistaria o ouro (no final da carreira, em 1996, Carl Lewis seria reconhecido como um dos maiores nomes do atletismo mundial, dono de dez medalhas olímpicas, sendo nove de ouro e uma de prata). Aliás, o paraibano só seria ultrapassado pelo trio americano, que tinha também Kirk Baptiste (prata) e Thomas Jefferson (bronze). E ficaria à frente do então campeão olímpico, o italiano Pietro Mennea.
O ouro em 1984 ficou com Carl Lewis, uma celebridade mundial dono de nove medalhas olímpicas de ouro
(Foto: Reuters)
- Nunca tive a pretensão de ir para uma Olimpíada, de forma que fiquei muito surpreso quando fui convocado. Tinha aquele pessoal que eu só via na televisão e de repente eles estavam ali ao meu lado. Foi algo muito impressionante para mim, principalmente porque eu consegui correr de igual para igual. Fiquei a apenas quatro décimos de uma medalha - relembra.
A ideia era voltar aos Jogos Olímpicos de Seul, quatro anos depois, mas isso não aconteceu, mesmo que na época tivesse apenas 23 anos. E hoje, aos 47, passa por dificuldades. Trabalha num colégio público municipal da capital paraibana, mas se esquiva de dizer qual é sua função lá. Tem vergonha do estado atual.
Não quero dizer em que trabalho. Hoje estou por baixo. Vivo com muitas dificuldades"
João Eugênio
- Não quero dizer em que trabalho. Hoje estou por baixo. Vivo com muitas dificuldades. E prefiro não entrar em detalhes sobre isto - resume secamente, sem esconder o constrangimento de ser um “atleta olímpico que não está mais por cima da carne seca”, segundo palavras dele mesmo.
Para ele, a culpa principal é das autoridades públicas, principalmente as paraibanas, que segundo ele deveriam ser mais responsáveis com seus atletas.
- Da Paraíba não recebo nenhum apoio. O que é uma pena. Porque numa época como a nossa, em que tantos atletas saíram da Paraíba para brilhar lá fora, a maioria é esquecida. Eu mesmo vivo no anonimato. A Paraíba não sabe dos meus feitos - frisou.
Ele se ressente até mesmo das dificuldades que tem em incluir seu nome no Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, criado para facilitar a compra da casa própria por pessoas carentes.
- Não consigo nem mesmo ter meu nome incluído no programa. Isso é um absurdo. Se estivesse por cima, tudo seria diferente. Mas como não estou, sofro com o descaso do Poder Público - finalizou.
Precursor de Robson Caetano
João Eugênio foi uma espécie de precursor de Robson Caetano, que nas Olimpíadas seguintes, em 1988, conquistou a medalha de bronze da prova. Tal como o paraibano, Robson foi superado por americanos, sendo que desta vez o ouro foi para Joe DeLoach e a prata para Carl Lewis.

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