16/05/2012 - 06h00
Bruno Doro
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
O
Campeonato Brasileiro de 2012, que começa no próximo sábado, promete ser o mais
rico da história. Graças ao novo contrato de transmissão com a TV Globo,
assinado em 2011, o futebol verde-amarelo apresentou um crescimento de 27% das
receitas no ano passado. O problema é que as dívidas subiram ainda mais.
Em estudo
divulgado pela empresa de consultoria BDO, os clubes geraram R$ 457 milhões
extra de receitas em 2011 em relação a 2010. No mesmo período, o endividamento
ficou R$ 628,4 milhões maior. “Esse nível de endividamento assusta. Você vê que
os clubes estão fazendo mais dinheiro e acha que as finanças estão ficando
equilibradas. Mas quando olha para os valores de endividamento, não é isso que
está acontecendo”, analisa Amir Somoggi, diretor da área de consultoria
esportiva da BDO.
A análise
foi feita com base no balanço de 20 times do Brasil: Atlético-MG, Botafogo,
Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Goiás,
Grêmio, Grêmio Barueri, Internacional, Palmeiras, Ponte Preta, Portuguesa,
Santos, São Caetano, São Paulo, Vasco da Gama e Vitória.
Juntos,
esses clubes geraram receita total de R$ 2,14 bilhões, contra R$ 1,68 bilhões
de 2010. O crescimento foi de 27%, gerando R$ 457 milhões em dinheiro novo para
o futebol. Os números do endividamento são ainda maiores: o total de dívidas
ficou em R$ 3,86 bilhões em 2011, frente os R$ 3,23 bilhão de 2010. A evolução
foi de 19%, representando um aumento no endividamento de R$ 628,4 milhões.
TV mantém
Corinthians como o mais rico
No ano
passado, os clubes brasileiros modificaram a forma de negociação dos direitos
de transmissão de TV. Antes, o Clube dos 13 era o responsável pelo acordo.
Desde o ano passado, a negociação se tornou individual. Isso fez com que a TV
ganhasse ainda mais importância na saúde financeira do futebol nacional.
Segundo o estudo, é a principal fonte de renda dos clubes, responsável por 36%
das receitas. Em 2007, essa participação era de apenas 22%.
Nesse
cenário, o clube mais rico do país continua sendo o Corinthians, que assinou o
contrato mais lucrativo. O time recebeu R$ 112,5 milhões das cotas de TV em
2011. Somados às receitas com patrocínio, venda de atletas, bilheteria, clube
social e outras fontes, corintianos ganharam R$ 290,5 milhões. O segundo na
lista é o São Paulo, com R$ 226,1 milhões, que tem como destaque os ganhos com
o Morumbi, que, mesmo sem receber jogos de rivais é o responsável por 18% dos
ganhos tricolores.
O
Internacional aparece em terceiro lugar, apesar de receber apenas a sétima
maior verba de TV. Os gaúchos, porém, compensam a diferença com a renda
proveniente dos sócios, que representam 21% de suas receitas. O Santos é o
quarto da lista, graças aos ganhos com bilheteria (em que é o mais rentável do
país) e patrocínio (ancorado pelo fenômeno Neymar). O Flamengo, que recebeu a
segunda maior cota de TV (R$ 94,4 milhões), aparece em quinto lugar na lista.
Custo
Futebol diminui em 2011
Um dos
índices criados pela consultoria para analisar a saúde financeira dos clubes é
o Índice Futebol. Ele mede quanto os clubes gastam com o futebol em relação à
receita geral. “É uma forma de analisar quanto cada clube utilizou de sua
receita no ano para a manutenção do departamento de futebol. Com isso, você
pode ver se o clube está respeitando seus limites de gastos”, explica Somoggi.
Em 2011,
o Custo Futebol dos 20 clubes ficou em 72,4%, com gastos de R$ 1,55 bilhão em
2011 contra receitas de R$ 2,14 bilhões. Em 2010, o índice estava em 78,3%
(gastos de R$ 1,31 bi contra receitas de R$ 1,68 bi). “Apesar dos custos com o
departamento de futebol terem aumentado, o Custo Futebol diminui já que o
aumento das receitas foi maior do que o aumento dos gastos com o futebol”,
completa.
Endividamento
cresce 89% em cinco anos
Apesar
dos bons indicativos apresentados pela análise, existem problemas para os
clubes. E as dívidas são as grandes vilãs. Nos últimos cinco anos, os 20 clubes
analisados passaram de um endividamento total de R$ 2,04 bilhões em 2007 para
R$ 3,86 bilhões em 2011, uma evolução de 89% (R$ 1,8 bilhão).
A maior
parte desse aumento, porém, não vem dos problemas dos times com o Governo
Federal. Graças à Timemania, encargos fiscais com o Governo Federal (FGTS, INSS
e Receita) estão controlados, diminuindo sua participação no volume total de
endividamento dos clubes. Outras dívidas, no entanto, aumentaram. “Outras
dívidas, que podem ser empréstimos bancários ou adiantamento das cotas futuras
de TV, por exemplo, são o grande problema dos clubes hoje. Nos últimos três
anos, 82% do crescimento do endividamento dos clubes não foi proveniente de
passivos fiscais a serem parcelados pela Timemania”, analisa Somoggi.
Com isso,
todos os 20 clubes apresentaram déficits do exercício em 2011 de R$ 366,1
milhões. Em 2010, esse déficit foi de R$ 333,7 milhões. Nesse quesito, o time
com os maiores prolemas é o Botafogo, que apresentou balanço de R$ 166,6
milhões negativos em 2011, com a entrada de uma série de dívidas provindas do
parcelamento da Timemania. Excluídos os valores do Botafogo, os clubes
brasileiros continuam deficitários (gastam mais do que ganham), mas a melhora
nos déficits foi de 34%.
Com isso,
a conclusão da análise da BDO é simples: aproveitando o momento de crescimento
das receitas, o foco da gestão dos clubes para 2012 deveria ser “um controle
mais efetivo dos custos com futebol e redução do endividamento, que gera
pesadas despesas financeiras”.
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